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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Vão! Mas voltem...

É necessário e urgente que eu escreva esta crónica sobre a Emigração e as várias componentes que lhe estão associadas. Na última quinta-feira, tive a oportunidade de poder dar uma pequena entrevista à TVI 24 onde dei a minha opinião sobre o empreendedorismo juvenil, a necessidade de olhar para o país com outros olhos e sobre a emigração. Foi precisamente sobre este último tema que incidiu o título da Reportagem: “Muitos colegas meus emigraram porque desistiram”. Deixem-me desde já expressar um grande sentimento de infelicidade para com o criador deste título. Não só não foi essa a mensagem a transmitir, como a tentativa de criar um «sound byte» à custa de uma reportagem destas é, no mínimo, lamentável.
Tenho sentido, à custa disso, as críticas enfurecidas de muitos emigrantes e seus familiares próximos que me têm dirigido enormes insultos à minha honra e à minha família. É, por isso, hora de moderar ligeiramente este debate e dizer claramente o que quis transmitir na referida entrevista. Existe, hoje mais do que nunca, uma crença generalizada de que a Emigração é a única solução possível para milhares de portugueses que todos os dias lutam para obter um emprego. Quando refiro que os «meus colegas desistiram», falo da minha geração que ainda estuda para obter uma Licenciatura ou outro grau de qualificação e já acha (a priori) de que terá que se ver obrigado a emigrar. A esses, aos que ainda não saíram para o mercado de trabalho, dirigi a minha mensagem!
A Emigração, na minha mais sincera opinião, não é um mal em si mesmo. Os portugueses que buscam melhores condições de vida lá fora são, logo à partida, divulgadores da cultura nacional. Mas nem só aqui se fica a mais-valia que eles trazem a Portugal: quando regressarem (e esperemos que todos o façam o mais brevemente possível) serão foco de empreendedorismo e de inovação, o que se traduzirá num potencial futuro para o nosso país. E, ao contrário do que o título da TVI refere, não considero os emigrantes alguém sem perspectivas de vida, desistentes e incrédulos em relação ao futuro. Os que ousaram ir para além-fronteiras trabalhar, largaram pais, filhos (alguns deles ainda pequenos), casa, entre muitas outras coisas. E para quê? Para aceder a melhores condições de vida, melhores salários, trabalho árduo recompensado. Mas a culpa não pode ser só dos que partem, é, também, necessariamente de quem fica.
O País não precaveu a necessária empregabilidade quando se aumentaram exponencialmente as vagas em áreas como a Enfermagem, a Educação ou em algumas Engenharias. Hoje temos qualificados que, não encontrando lugar na sua terra natal, buscam outras que lhes permitam cumprir o sonho de exercer dignamente a profissão pela qual sempre sonharam. Estes não desistiram! Não ficaram à espera de rendimentos mínimos, subsídios de desemprego, etc. Cumpriram o sonho de exercer a profissão para a qual se qualificaram e exercem-na em países onde necessitam deles. Para bem de Portugal, espero que voltem! Será sinal de que somos um país economicamente mais sustentável, com uma capacidade geradora de emprego muito maior e onde possamos encontrar as ligações necessárias entre a oferta formativa e o mercado de trabalho.
Os que partem merecem ser tratados com dignidade pelos que ficam. Os que buscam sempre o melhor, merecem que a vida lhes sorria. Os emigrantes são parte importante de Portugal. Vão, mas voltem!

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