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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Presidenciais 2016: Surpreendentes ou previsíveis?

Depois das últimas eleições presidenciais, não poderia deixar de comentar os resultados do sufrágio nacional. O aspecto surpreendente destas eleições parte, desde logo, pelo número de candidatos à Presidência: 10. Quatro deles, apresentavam-se como verdadeiros independentes de partidos políticos. Os outros, já conhecemos os meandros dos apoios partidários. Mas façamos um resumo desta noite eleitoral: 
- Henrique Neto, Cândido Ferreira e Jorge Sequeira não conseguiram partilhar a sua independência partidária com o país que não os considerou alternativa viável. Conseguiram pouco mais de 60 mil votos (considerado o seu somatório); 
- Paulo de Morais trouxe a debate temas como o combate à corrupção, o enriquecimento ilícito e o financiamento dos partidos. Mostrou ser alguém dedicado à política como um todo, sem dependências partidárias. A votação de 2,15% é insuficiente para a quantidade (e qualidade) das posturas apresentadas. 
- Edgar Silva protagonizou uma campanha em tudo similar às do Partido que o apoiou. Encontros com os trabalhadores, jantares-comício em mesas de plástico, simpatia no rosto para os «operários» e para o restante povo. Não obstante a sua figura pessoal, o seu discurso (já tradicional no PCP) não vingou e isso reflectiu-se no péssimo resultado obtido (3,95%). Pela primeira vez, os comunistas não cantaram vitória em noite eleitoral. Estará na hora da mudança no histórico PCP?
- Maria de Belém carregou em cima de si o peso da divisão do Partido Socialista. Após a já anunciada candidatura de alguém da sua área de influência, a ex-presidente do PS resolveu avançar para Belém. Não ficou nada bem na fotografia (4,24%) e criou brechas dentro do seu partido. Uma decisão talvez mal ponderada e com consequências para a vida interna do partido. 
- Sampaio da Nóvoa falhou na sua missão de ser o líder da oposição de esquerda contra Marcelo (22,89%). Ao longo dos últimos meses, foi-se apresentando como um «cidadão independente», mas o peso do "semi-apoio" do Partido Socialista, pode ser entendido como sinal de contraditório. No entanto, e há que ressalvar esse facto, no seu discurso final apelou à união dos portugueses em torno do vencedor, referiu várias vezes que não iria ser desestabilizador da Presidência e que só um País unido poderia enfrentar os desafios do futuro. Apesar da derrota «pesada», merece um louvor pela grandiosidade do discurso. 
- Marisa Matias provou que a força do Bloco de Esquerda está cada vez mais presente no panorama político-partidário português. O resultado histórico alcançado (10,13%) igualam o resultado do partido nas eleições Legislativas. Marisa queria impedir uma decisão à primeira volta. Falhou, mas o seu discurso será indiciador de que o partido se está a erguer. Pela força das suas palavras e da sua figura, obteve o terceiro lugar na corrida. Não esteve longe. Haverá próxima vez? 
- Vitorino Silva trouxe consigo uma nova imagem à Política portuguesa. "Tino de Rans", como é popularmente conhecido, aliou um discurso muitas vezes parco em termos técnicos e políticos a uma figura populista de contacto directo com as populações. O voto de protesto que nele recaiu valeu-lhe um resultado histórico (3,28%), abrindo portas para que o populismo esteja presente na nossa democracia. Será que Tino (que falhou o apuramento à Liga Europa) revolucionou a forma de agir e de actuar na política? O futuro o dirá. Tino, esse, continuará no meio das suas gentes. 
- Por fim, o candidato vencedor. Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu aliar a sua popularidade e protagonismo já alcançados, a uma campanha discreta, verdadeira, de proximidade. E foi aqui que se alcançou a vitória à primeira volta (52,2%). Os eleitores já o conheciam, percebiam claramente quais eram as suas intenções e o que verdadeiramente fazia parte do carisma do candidato. O Professor Marcelo limitou-se a ir aparecendo nas televisões (que tão bem conhece), sem entrar em guerras, nem "intrigalhadas" (Tino disse-o bem). Os portugueses confiaram nele para nos liderarem nos próximos 5 Anos. Esperamos que haja de acordo com a Constituição (que bem conhece) e que seja um verdadeiro «árbitro» neste jogo que é a política nacional. 

Uma última mensagem para os 51,16% dos portugueses que não saíram de casa para votar. Este é o nosso direito máximo por excelência, o que tem a primazia sobre os restantes, o que nos permite escolher os nossos representantes. Não queiram depois mostrar a vossa força em manifestações "sindicais" e em protestos nas redes sociais. De nada vos adianta. Exercer o direito de voto é assumir plenamente a nossa existência cívica. Não deixe que outros decidam por si. Da próxima vez, mostre a sua opinião com um X. Não custa nada. Por Portugal.

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